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O que é o tríplice aspecto da Doutrina Espírita?



Antes de adentrar no mérito da nossa pergunta, trazemos uma reflexão de Herculano Pires que afirma falares todos de Espiritismo, bem ou mal, mas que poucos o conhecem, geralmente considerando-o uma seita religiosa comum, repleta de superstições. Ressalta que muitos o encaram como uma forma de sistematizar crendices populares, havendo também os que o aceitam como nova Goécia, a magia negra da Antiguidade disfarçada de Cristianismo milagreiro, é dizer, o Espiritismo, nascido em meados do século passado, é ainda hoje o Grande Desconhecido dos que o aprovam e o louvam, bem como dos que o atacam e criticam.[1]


Observamos que ao tempo de Kardec, como ainda hoje, aqueles que nada sabem do Espiritismo tendem a tomá-lo pelo que ele não é, mais uma religião ou seita, com seus mistérios, supostos sacerdotes dedicados a consultar na penumbra os mortos para os fins mais variados. É exatamente por isso que Kardec nos convida a estudar a Doutrina Espírita, destacando que os espíritas precisam conhecer bem o Espiritismo, estudá-lo bem, edificar na alma os princípios filosóficos que dizem adotar e buscar continuamente o progresso espiritual.


Nesta pergunta vamos abordar o tríplice aspecto da Doutrina Espírita, questão de suma importância para quem deseja realmente entender sobre o Espiritismo e, como dito, isso só é possível através de um estudo sério e metódico.


Espiritismo é ciência, filosofia e religião, sendo esse o seu tríplice aspecto, pois técnicas de investigação foram usadas para comprovar a veracidade dos fenômenos espíritas (ciência) e, com base na revelação dos resultados (verdades), foram formuladas questões de elevado teor filosófico (filosofia), verificando-se que a aplicação daquelas podem ser utilizadas na transformação moral do Homem (religião).


Ciência, pelo dicionário, é o conhecimento profundo sobre alguma coisa. Conhecimento ou saber excessivo conseguido pela prática, raciocínio ou reflexão. Reunião dos saberes organizados obtidos por observação, pesquisa ou pela demonstração de certos acontecimentos, fatos, fenômenos, sendo sistematizados por métodos ou de maneira racional: as normas da ciência.[2]


Espiritismo é ciência porque estuda, à luz da razão e dentro de critérios científicos, os fenômenos mediúnicos, é dizer, fenômenos provocados pelos espíritos e que não passam de fatos naturais e absolutamente dentro das leis divinas. Todos os fenômenos, mesmo os mais estranhos, têm explicação científica. Não existe o sobrenatural no Espiritismo. O Espiritismo, sendo ciência de observação, estuda e analisas as relações dos Espíritos com o mundo corpóreo,como asseverou outrora Kardec na obra "O que é o Espiritismo", estando bem explicada e descrita em O Livro dos Médiuns sua metodologia de pesquisa, constatando-se ter sido um modo seguro de lidar com os Espíritos em reuniões sérias.


Através dessa metodologia, que vamos conhecer mais detidamente na pergunta “Como Allan Kardec codificou a Doutrina Espírita?”, foi tirado o véu que encobria parte da percepção do mundo invisível e nos fez conhecer e entrever a imortalidade da alma comprovada pelos inúmeros fatos que a mediunidade demonstra. Kardec evocava Espíritos Superiores para questioná-los sobre temas filosóficos de grande profundidade,através dos médiuns que atuavam na Sociedade, em momento algum considerandoqualquer Espírito como revelador exclusivo e privilegiado, nem as teses reveladas como verdades absolutas.


Fazia comparação dos ensinamentos, tanto aqueles colhidos nas reuniões em Paris como os oriundos de correspondência com outros grupos, recebidos através de médiuns desconhecidos daqueles primeiros, sendo aCiência Espírita apresentada como progressista, na base kardequiana, e dialógica em relação às ciências ordinárias. Nesse sentido apontou o insigne mestre que o Espiritismo marcharia sempre com o progresso, razão pela qual jamais seria ultrapassado, pois que se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, modificar-se-ia sobre esse ponto, é dizer, se uma nova verdade se revelasse, ele a aceitaria.[3]

O aspecto científico do Espiritismo desenvolve-se em duas obras de Allan Kardec: O Livro dos Médiuns e A Gênese.


Espiritismo é filosofia porque analisa a Criação Divina, explicando qual a razão de Deus ter criado o homem, qual a sua origem e sua destinação, reflete sobre as causas da felicidade e infelicidade humanas. Perguntas como: “De onde eu vim”, “o que faço no mundo”,“para onde irei depois da morte” são plenamente respondidas pelo Espiritismo, lembrando que toda doutrina que dá uma interpretação da vida, uma concepção própria do mundo, é uma filosofia.

A Doutrina Espírita é uma filosofia que ensina o autoconhecimentocomo instrumento indispensável à evolução intelecto-moral do Espírito, tendo um profundo potencial para transformar o mundo a partir do indivíduo. “Sua força está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom-senso”.[4]

Portanto, o aspecto filosófico retrata os princípios e ensinamentos dos Espíritos Superiores recolhidos e organizados por Allan Kardec, acrescido do contributo do nobre codificador obtido em suas reflexões e estudos, estando este aspecto filosófico abordado em O Livro dos Espíritos.

Espiritismo é religião porque desencadeia, a partir da apreciação dos princípios que traz, uma moral que conduz o homem à ética do amor exemplificada pelo Divino Mestre. Recordemos que a moral pode ser vista como sinônimo de ética, como teoria dos valores que regulam a conduta humana.


A Doutrina Espírita tem por objetivo a transformação moral do homem, revivendo os ensinamentos de Jesus Cristo na sua verdadeira expressão de simplicidade, pureza e amor, buscando uma religião simples, sem sacerdotes, cerimoniais e nem sacramentos de espécie alguma, sem rituais, culto a imagens, velas, vestes especiais e nem manifestações exteriores.


O aspecto religioso vai abordar ainda as consequências morais do comportamento humano, definido pelo uso do livre-arbítrio e governado pela lei de causa e efeito, a qual toda a humanidade está sujeita. A moral espírita faz do homem pessoa de bem, sabendo distinguir o bem do mal e a escolher o primeiro, pois o verdadeiro homem de bem, conforme ensina O Evangelho Segundo o Espiritismo, “é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”. [5]


Tendo como referência essa orientação, o Espírito Emmanuelelucida podermos tomar o Espiritismo simbolizado como um triângulo de forças espirituais, vinculando a Ciência e a Filosofia à Terra e a Religião ao céu, como o ângulo divino. Acrescenta também que a Doutrina, em seu aspecto científico e filosófico, será sempre um campo nobre para as investigações humanas, visando ao aperfeiçoamento da Humanidade, mas que no aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, promovendo a renovação espiritual definitiva do homem.[6] O aspecto religioso da Doutrina Espírita é desenvolvido por Allan Kardec nas obras básicas O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno.


[1]Id. O Evangelho Segundo do Espiritismo. 131 ed. Brasília: FEB, 2013. p. 232.

[2]XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo espírito Emmanuel. [s.l.]:FEB, [2010?]. p. 9.


[3]KARDEC, Allan. A Gênese. 53 ed. Brasília: FEB, 2013. p. 41.

[4]KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93 ed. Brasília: FEB, 2013. p. 464.


[5]PIRES, Herculano. Curso Dinâmico de Espiritismo – O grande desconhecido. São Paulo: Paideia, [2000?]p. 11.

[6]Portal Dicio. Dicionário Online de Português. Disponível em:<https://bit.ly/2MyArqM>. Acesso em: 7 jun. 2018.

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