top of page

Primavera de Marta - Mensagem do dia 03.08.2022



Teus primeiros passos na filantropia te causaram grande impacto. Em plena via pública, observaste a idosa em lágrimas, te estendendo as mãos cansadas, suplicando à tua generosidade algum auxílio para diminuir a fome na retaguarda.


Mais adiante, teu pés cruzaram com a família que desembarcou na cidade grande, e o varão situou a companheira de miséria e os filhos vários em alguma praça pública, saindo para desconhecidas ruas à cata de algum serviço com que pudesse ser remunerado, trazendo pão e leite para a constelação familiar. Não obstante bater de porta em porta, recolheu apenas indiferença, chacota e expulsão ríspida desse ou daquele ambiente. Teu olhar cruzou com o daquele homem que o desespero começou a abater.


Um pouco mais adiante, um cão amarrado numa árvore ou lançado num aterro te chamou a atenção pelos uivos de dor. Libertar o animal da coleira imunda foi apenas o primeiro item de ajuda, mas as interrogações se multiplicaram em teu íntimo: como alimentar o animal sofrido? Para onde levá-lo?


Em certa sinaleira, o menino sujo olhou pela janela de teu carro e num movimento automático de insegurança e medo, fechaste o vidro, temendo um furto ligeiro. Ele queria apenas alguma moeda perdida ou um pacote de bolacha.


Teus olhos se deslumbram com a fachada do shopping elegante, mas nas imediações observaste um número crescente de indivíduos com placas de papelão, com grosseiros erros de português, clamando por alguma ajuda, onde os verbetes insegurança alimentar estão reduzidos a quatro letras.


Sim, nem tu nem pessoa alguma pode mais ignorar que a miséria, o desemprego, o ócio não remunerado estão fazendo vítimas incontáveis. A um clamor que agride o bom senso. Mesmo que não saiam no noticiário do meio dia ou não estejam no telejornal de maior audiência, eles estão nas ruas e esquinas, praças e marquises diariamente.


Não batem ponto na via pública porque querem. Sabem dos riscos da exposição a que se sujeitam.


As meninas assediadas por homens inescrupulosos. A criança, vítima da exploração difusa que lhe traumatiza a infância. A mulher mãe, exposta aos galanteios do machismo deselegante.

A incerteza diária se sobreviverão ao dia seguinte.


Teu dia se fecha num crepúsculo de incertezas. A noite te engole no retorno para casa, onde tuas inquietações íntimas trafegam do coração ao cérebro e vice-versa, te causando desconforto pela impotência gritante.


Como solucionar os graves problemas sociais?


Localizar responsáveis é muito fácil. Difícil é resolver as pendências, alimentar estômagos atormentados e somente depois instaurar sindicância.


A insegurança nas ruas grita por soluções urgentes. A miséria não pode esperar por decretos. Com ou sem um teto, o dia é devorado pela noite e a chuva copiosa desaba sobre ricos e pobres, agasalhados e desprotegidos.


Um frio da madrugada entre mantas custosas e cama confortável é uma coisa, e além das tuas paredes muitos o enfrentam com andrajos e farrapos recolhidos em qualquer lixeira.


Pelo menos já anotas que em teu mundo íntimo esse cenário já te incomoda, causa desconforto.


Como creditar uma sociedade que proclama o Evangelho e se omite na ajuda aos párias sociais?

Como se afirmar cristão e negar-se ao auxílio a quem precisa?

Como reter dispensas com algum supérfluo, se além de nossas paredes o entardecer recolhe muitos que nada comeram o dia todo?

Em tuas paisagens profundas, já não és a mesma pessoa após travar contato com a mensagem D'Ele.

Te sentes convocado a um incessante combate contra a indiferença. Tuas limitações te constrangem à superação.

Tens pouco, mas eles não tem nada.

Ninguém te cobra ações de heróis, nem que te coloques na posição de um revolucionário das causas perdidas.


Fazes o que estiver ao teu alcance.


Se a bolsa não te for favorável, articula uma prece.


Conta zerada, distribui alguma gentileza com quem te dirige a palavra.


Constatando a carteira vazia, doa alguma peça de roupa que não te serve mais.


Qualquer gesto em nome D'Ele é equivalente a um raio de sol na gruta escura da dor, tem a força da labareda de fogo e a imponência da espada nua.


O pouco com Jesus será sempre a dádiva maior.


Os pobres sempre os teremos.

Quanto a Ele...


Marta

Salvador, 03.08.2022

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page