Vozes pessimistas hão se levantado em todos os tempos da história terrestre, proclamando a derrocada da raça humana e o seu fim apocalíptico.
Asseguram estar vindo uma chuva de fogo, por cujo meio a Divindade poria fim a uma raça que perdeu a direção ética e optou pelo cultivo do mal.
Lavram discursos inflamados, tecem longas catilinárias em derredor do Armagedom e clamam pela conversão dos infiéis enquanto é tempo.
E, na ampulheta desse Cronos implacável, suas sentenças equivocadas vão ficando pela estrada, quais folhas mortas, varridas pelo vento impetuoso da evolução e do progresso.
Quando tudo parece conspirar para o término da história, impondo pelos acontecimentos o fim da trajetória humana no planeta azul, este se ergue de suas próprias contradições e se renova, à semelhança da Fênix mitológica.
Percebe que a guerra não soluciona seus conflitos e elege a diplomacia como alternativa para a paz mundial.
Elabora grandes blocos comerciais, diminuindo barreiras alfandegárias e amplificando o progresso para muitos povos.
Revoga leis injustas e proclama o direito de minorias esmagadas ou esquecidas.
Se permite ao exame de questões religiosas ultrapassadas, oxigenando a compreensão de temas palpitantes e de interesse coletivo.
E uma nova era parece sacudir as bolorentas estruturas, impondo e constrangendo as massas a caminhar em direção a insondável futuro.
Os augúrios destrutivos, os vaticínios de arrasamento perdem a cor e são esvaziados de fatos que os confirmem.
A retórica torna-se vazia, como vazias são muitas vidas nesses tempos de ciência sem Deus, onde amargas filosofias tem pautado a cartilha da vivência de milhões.
Estorcegam nas sensações grosseiras, fugindo do encontro consigo mesmos.
Elegem deuses quebradiços, os entronizando nas vitrines da fama passageira.
Negam a própria imortalidade, chafurdando-se no materialismo que os asfixia.
Combatem qualquer ideologia que não se compactue com os prazeres imediatos do corpo, patrocinados pelo dinheiro farto.
São dignos de compaixão...
A vida é uma experiência por demais profunda para ser resumida tão somente no estágio entre o berço e o túmulo.
Fascículo de luz, ao ser está fadado a glória estelar, após vencidas as procelas terrestres.
Seu escafandro de ossos é transitória vestimenta de que se vale no palco do mundo, saindo da passividade para coadjuvante das tramas da evolução.
Tudo que venha a possuir como recurso material é brinquedo que a maturidade descarta um dia.
Sedento de Deus, o deotropismo o atrai para o cultivo do sagrado em si mesmo.
Incessantemente, busca equacionar-se, descobrindo quem se é.
Ao seu olhar amadurecido pela dor, nada se destrói.
Tudo se renova, se aperfeiçoa incessantemente.
Insculpindo o Senhor na própria intimidade, sente-se vergastado por dentro.
Abandona as sombras onde ocultava a própria miséria moral e se projeta no tempo novo, onde não realiza o que quer, mas sim o que deve.
Lentamente, se faz ferramenta valiosa nas mãos de Jesus.
Reconhece os espinhos da estrada, mas se curva à beleza da rosa.
Anota a existência do pântano e, sem qualquer crítica, escava o dreno que o suprime.
Lamenta a semente que morreu no solo crestado, mas avança para nova sementeira, rico de entusiasmo e bom ânimo.
Faz da noite palco de suas reflexões e cada dia busca ser melhor do que na véspera.
Não espalha medo.
Faz-se arauto da esperança.
Não condena.
Compreende.
Não critica.
Ajuda.
Não blasfema.
Ora.
Repousa, mas nunca está inativo ou ocioso.
Eis o tempo novo, onde o alto tem chamado para todos, nem sempre encontrando ressonância nas mentes e nos corações.
Em quase todos os tempos foi assim.
Muitos os chamados, poucos os escolhidos.
Tens interesse na vaga?
Marta
Salvador, 03.12.2021