Primavera de Marta - Mensagem do dia 05.10.2022

À luz da história, a presença humana no solo do planeta se deu a milhões de anos. Atravessando as eras do Paleolítico, Neolítico e Idade dos metais, as primeiras comunidades tribais tiveram intensos desafios a superar.
Tribos hostis, domínio de território, predação do mesmo ambiente, com consequente esgotamento das reservas animal e vegetal, impondo o nomadismo, até que sobreviesse, no curso vagaroso das eras, o domínio do fogo, a domesticação de animais para abate e técnicas agrícolas que produzisse alimentos sem muito deslocamento de área.
E nesse ponto se destaca um item fundamental: a característica básica da presença humana é nitidamente predatória. Para sobreviver, o homem extrai do meio os elementos de que necessita, secando as fontes naturais e depois realizando a mudança para novas terras, onde o ciclo recomeça ou simplesmente continua.
A Revolução Industrial, em pleno século XVIII, produziu uma grande mudança nas estruturas sóciopolíticas e econômicas da Europa, espalhando-se doravante pelos demais países, impactando diretamente a maneira de viver de milhões de pessoas.
Minas de carvão foram exploradas até o fim de suas reservas. A indústria reclamou ferro guza e aço inoxidável, as novas barcaças exigiram desenvolvimento de melhores equipamentos de navegação e numa sequência acelerada, vários setores se agregaram ao rápido inchaço da vida urbana.
Tudo isso teve e ainda está tendo um preço.
O êxodo rural, se facilitou o acesso aos bancos escolares, às universidades e aos mercados de manufaturas e de produtos industrializados, igualmente projetou os seres numa espiral incontrolável de ansiedade, disputas titânicas por renda e moradia, iniciando uma era de saltos quânticos na medicina e na tecnologia, mas alimentando uma geração profundamente inquieta e materialista.
Disputas irromperam no seio das famílias, abrindo abismos na afetividade dentro do clã. Impérios industriais ou de comércio se ergueram em tempo recorde, produzindo mutilados das máquinas pesadas, ansiosos por um lugar ao sol e sonhadores de fortunas fáceis, sem muito esforço.
Milhões se afastaram da vida simples, se robotizando na selva de pedra.
Novas enfermidades surgiram no seio das massas, obrigando a medicina a investigar o ser que adoecia continuamente.
Ninguém escapa das leis de progresso e de evolução. Ambas, mesmo ignoradas, fazem girar as roldanas das mudanças, impondo alterações profundas nas sociedades organizadas, que deixam um patamar de acomodação para ajuste à uma nova base de crescimento. E no centro de todas essas mudanças, o Espírito imortal nem sempre consegue assimilar de maneira lógica e saudável o que lhe sobrevém nas trilhas do próprio destino.
Torna-se ansioso pelo dia de amanhã.
Agita-se em excesso no tempo presente. Angustia-se pelo não realizado no ontem vencido.
Tragado pelo materialismo sufocante, olvida a imortalidade e se faz refém do medo.
Agarra-se ao corpo passageiro como se este fosse uma blindagem contra a morte, etapa terminal da vida biológica.
Elabora complicadas cerimônias fúnebres ou religiosas, buscando mercadejar com o divino mais tempo de moradia na clausura orgânica.
Domina a muitos, incapaz do autodomínio.
Fere, disputa, briga por ração, descendo algumas vezes ao mesmo nível dos irracionais e das feras soltas nas florestas bravias.
Seus artefatos de guerra são constantemente atualizados, a fim de não se sentir inferiorizado pelos antagonistas e nações adversárias.
Vive sem fruir o melhor da vida e morre atormentado pelas incertezas do porvir.
Essa é a paradoxal criatura humana, lutando contra si mesma no curso de milênios sem fim.
No essencial não investe.
Pela mantença do transitório, se afadiga e se desgasta ao extremo.
Opta pela companhia da ansiedade devastadora, negando-se à iluminação pela meditação.
Acumula. E amanhã segue sem nada do que guardou.
Ergue enormes celeiros para estocar os grãos da terra, especulando preço alto nas agitadas bolsas de valores.
Se faz podre de rico de dinheiro e misérrimo de entendimento acerca dos objetivos existenciais.
Se prostra diante de ídolos passageiros, ignorando Deus que nele reside na consciência.
Viaja para o infinito. Não sabe sequer quem é seu vizinho.
Adquire milhares de imóveis para aluguel e revenda no febril ramo imobiliário. E cada noite deita-se num cômodo pequeno, desconhecendo que amanhã estará em outro plano mais sutil.
Tens alguns desses sintomas da vida moderna?
Tuas horas se evaporam sem que consigas dar conta de tua agenda sempre sobrecarregada de compromissos?
Teu cansaço contínuo parece um fantasma que nunca te abandona?
Vez por outra, notas que após um pico de euforia, sobrevém uma crise de choro ou surtas do nada, gerando inquietação e medo em teus amigos e familiares?
Se a esses sintomas se somarem outros, prudente um exame honesto de consciência, buscando identificar as causas profundas de teu desassossego crescente.
Antes que o paroxismo te furte a lucidez e o medo te empane o clarão das estrelas, foge um pouco dessa gritaria que te aturde e vai dialogar um pouco contigo mesmo. Retoma o caminho de volta para tuas origens espirituais.
Admite tuas fragilidades.
Vai ao campo num dia de sol e deixa-te asserenar pela gratidão ao Senhor da vinha.
Ora. Medita. Silencia.
Teu SOS nunca se perde na contabilidade divina.
O socorro do alto pode tardar, mas nunca falha nem falta.
Marta
Juazeiro, 05.10.2022