Numa existência, surgem períodos que são desafiadores para cada Espírito mergulhado na equipagem orgânica, convidando a fundas reflexões.
Desabam tragédias de difícil assimilação.
A morte chega de inopino e arrebata diversos entes queridos.
Insucessos financeiros afundam projetos e cavam grutas escuras de miséria material.
Enfermidades de difícil tratamento surgem do nada, obrigando a revisão do estilo de vida.
Matrimônios aparentemente sólidos se dissolvem como bolhas de sabão, em meio a escândalos que abalam a estrutura da família.
E os atingidos são obrigados a rever posições, reacomodar conceitos e ressignificar valores diante do tabuleiro que se moveu além da conta. Dotada de uma mobilidade que nunca se cristaliza, a vida possui uma dinâmica que assusta e obriga a revisão periódica de metas e objetivos, ensejando o crescimento do grupo que se vincula por afinidades diversas. Nada permanece estagnado, patrocinando o comodismo e insuflando o parasitismo.
Dificuldades e lutas, coletivas e individuais, fazem parte de mecanismos da lei que impulsionam os seres para novos estágios de compreensão da vida. A morte, em sendo simples transferência do ser de um estágio material para um outro mais sutil permite, periodicamente, renovação na maneira de pensar e agir.
Quem parte, se defronta com um estágio de aprendizado que ignorava, onde avalia o que fez e o que deixou de fazer, se adaptando a um renovado ciclo de alteração no estilo de vida. Quem fica no estojo carnal, ante a ausência do ser querido, sacode as estruturas acomodadas para ingresso em novo período de aprendizagem e lutas evolutivas.
A poda parece mutilar o vegetal, mas arranca do seu tronco galhos estéreis e extensões inúteis, predispondo o arbusto a uma nova floração.
A tosa na ovelha arredia não lhe extingue a existência, apenas coletando a lã para utilidades diversas e diminuindo o excesso no corpo do animal.
Dores e sofrimentos fazem parte da caminhada a que as almas estão sujeitas na jornada redentora, lhes aperfeiçoando a visão que possuem da marcha. Cada um pode tirar das experiências aparentemente contrárias aos desejos excelentes lições para seu crescimento íntimo.
Após a tempestade, o ambiente sacudido pelas descargas elétricas se faz suave, o ar torna-se rarefeito, a lama se converte em manancial de vida. A gramínea se renova, as árvores tombadas pela impetuosidade dos ventos abre espaços para outras espécies e em algum tempo a vida se ajusta novamente na floresta atingida.
Por analogia, quando tudo estiver muito calmo, excessivamente sereno e a renovação parecer tardar, é bom cada um ficar de sobreaviso: a tormenta está a caminho.
Os sutis mecanismos da lei ofertam calmaria para as reflexões e na convulsão testa a fibra do combatente.
Na serenidade é possível o auxílio aos agitados em derredor, e quando estejamos no olho do furacão igualmente seremos convocados a colaborar, mesmo portando inquietações de difícil descrição.
Nem sempre o alto nos avisará das mudanças que vão sacudir a constelação familiar. As alegrias do Natal podem ser a ante-sala de muitas amarguras logo no réveillon.
O domingo fruído no clima da alegria pode ser véspera de uma semana muito difícil.
Se agasalhas na alma uma fé viva e lúcida, vive cada momento como se fosse o último teu na Terra.
Faze hoje todo o bem que puderes.
Desapega-te de coisas passageiras.
Acumula o que te seja útil na grande viagem que se avizinha, te arrebatando do país das ilusões para o vasto continente da realidade espiritual.
Equilibra teus afetos.
Dissolve os grilhões de antipatia com quem trafega contigo na mesma estrada.
Deixa tuas impressões digitais nos corações que sintonizam com o teu: amizade consciente, compartilhamento de sonhos e auxílio desinteressado.
Se te tomarem a capa, oferta também o manto.
Constrangido a caminhar mil passos, vai mais dois mil com o irmão em eclipse da razão.
Ferido nos interesses, enxuga as lágrimas e avança em silêncio, sem agredir a ninguém.
É possível e até provável que a solidão te alcance os dias terminais, te fazendo crer que fostes abandonado pelo alto.
Descarta essa equivocada percepção.
Jesus esteve contigo ontem.
Te sustenta no hoje.
E quando o mundo te ignorar as lutas, te votar indiferença e te lançar opróbrios, fita em tua noite escura a estrela solitária que tremeluz em tua noite, prenunciando o dia novo de tua aurora de felicidades sem fim.
Sempre estivestes a caminho da luz.
Marta
Salvador, 09.08.2022