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Primavera de Marta - Mensagem do dia 11.08.2022



Percorre o mundo uma oleografia onde o artista plástico situou Jesus numa madrugada, sentado numa pedra, em completo silêncio, fitando uma Jerusalém adormecida e em suas janelas algumas escassas lamparinas pareciam resistir às sombras da noite em triunfo.


Em que estaria pensando o Divino Amigo?

Tomando dessa imagem, podemos igualmente, por analogia, nos colocar no lugar D'Ele para contextualizar que também enfrentamos e enfrentaremos momentos que exigirão pausa para as graves decisões.


A escolha da profissão, a mudança de domicílio, a saída do ninho, a assunção de uma outra vida que se nos surgiu de inesperado na caminhada, um acidente que alterou completamente planos e adiou sonhos.


Nos vemos projetados no silêncio imenso de nossa noite moral, buscando juntar os pedaços de nossos ideais para ressignificar a própria existência.

Rondando nosso leito, a depressão, o ressentimento e a exaltação insinuam sugestões perturbadoras. A primeira insufla tudo desistir, o segundo revidar com artilharia pesada e o terceiro atear fogo na festa, carbonizando os convidados.


Em diversos momentos da jornada nem sempre contaremos com a claridade do dia, permitindo visualização adequada da estrada. Situações surgem em que a boca da noite engole a esperança, desidrata a fé e restringe o acesso de corações afetuosos, que podem nos ofertar arrimo nas horas de amargura e dor.


Ocasiões inesperadas aparecem onde só contamos com a noite, onde a luz se fez ausente e teremos que meditar à luz de candeeiros bisonhos, tentando achar sentido em nossas atitudes.


Fitaremos o vazio.

Mergulharemos no grande silêncio.

E a mente parecerá uma roda gigante.

O problema parecerá intransponível, o medo se tornará um cérbero, a indecisão crescerá como um fermento exagerado no bolo e a solidão turvará a visão do caminho.


Sim, temos instantes decisivos na vida. Horas de fundas e demoradas reflexões. Minutos cruciais.

Nem sempre o destino nos doará outra madrugada como essa onde, como Ele, estaremos ausentes da massa de pedintes, libertos das exigências de muitos, alforriados da azáfama diária que nos sufoca, podendo olhar com alguma serenidade em direção ao porvir.


Recomeçar, sim, mas por onde?

A atual estratégia está dando certo?

Porque a incompreensão parece um verdugo em torno de nossos melhores ideais?

Como compreender quem nos aplaudia pela frente e agora nos apunhalou pelas costas?

Que buscam aqueles que nos puxaram o tapete quase no instante do triunfo, tornando nossa vitória inesquecível derrota?


Quase sempre interrogamos a Divindade, como se esta tivesse nos abandonado em plena selva humana, onde cardos morais, espinhos emocionais e ervas imprestáveis e amargas nos surgissem por empecilhos intransponíveis.


Naquela hora Ele também meditava, como imaginou o artista anônimo.

Que fizera até ali, senão o bem? Por que a ingratidão e a incompreensão de tantos?

Fariseus palavrosos, saduceus enciumados, sacerdotes vaidosos O hostilizavam publicamente. De que dispunha, senão 12 amigos incultos e rudes?


E com eles e o Pai mudou o curso da história. Alterou nossa forma de pensar. Inaugurou na Terra uma era assinalada pelo amor e prenhe de esperanças.

Renovou a criminologia, firmou uma ponte segura entre os homens e Deus, resgatou a mulher de sua humilhação ancestral e exaltou os simples e os humildes.


Pressentia o desfecho difícil que pagaria por semelhante atrevimento, mas doou-se por completo na tarefa que trazia da vida maior.


Na imensa noite moral que ainda persiste, e com maior intensidade, nos dias que estamos atravessando, graduou a própria claridade para não nos ofuscar a visão da estrada.

Nos deu um sentido existencial.

Ressurgiu do túmulo numa manhã clara e se fez paradigma inesquecível, padrão ético de homens e mulheres.


E tu, que fazes nessa noite que te avassala?

Podes entregar os pontos e desistir de tudo. Passar a noite na companhia da lamentação. Prantear tua infelicidade até que teus olhos percam a visão da estrada.

Essa é uma opção adotada por muitos.

Se Ele tem algum significado para tuas delicadas paisagens íntimas, pinta para ti mesmo novo quadro.


És imortal. Isso ninguém te pode furtar.

Tens uma tarefa a realizar. E se não a fizeres agora, surgirá mais difícil no futuro.

Sempre terás inimigos no mundo. Importa não ser inimigo de ninguém.


A quem valorizas mais: tua consciência ou o arbítrio alheio?

És livre para fazeres escolhas: edificar uma vitimização para chamar a atenção de tuas carências ou fazer das dificuldades alavanca silenciosa de teu triunfo pessoal.

A decisão é inteiramente tua.

Na noite, Ele medita e espera. Jerusalém dorme.

Ele vela, incansável.

Amanhece.

Tens uma decisão?


Marta

Salvador, 11.08.2022

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