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Primavera de Marta - Mensagem do dia 28.07.2022

Atualizado: 29 de jul. de 2022



Em uma roda de amigos ou quando surgem as raras visitas nesses tempos de pandemia, o indivíduo, instado a falar sobre as dificuldades do momento, costuma frisar a saudade que sente do passado que já se foi.


Aqueles dias eram melhores do que o tempo presente...


Famílias nas calçadas, em alegres saraus de conversa sem hora. Hoje, o refúgio nas fortalezas ou o trancar nos apartamentos de luxo, tentando fugir da violência, que se banalizou.


A ausência de redes sociais, de mídia opressora, permitindo leitura de jornais impressos e livros físicos. Atualmente, a ansiedade de se fazer notado, destacando a existência descolorida para seguidores desinteressados.


A alimentação sem tantos aditivos, a fartura de quitutes da vovó e o descompromisso com o cinto de segurança nos veículos. Agora, o trânsito alucinado na hora do "rush", a sobrecarga nos rins de conservantes, aromatizantes e realçadores de sabor, nos impondo as leis a obrigatoriedade do uso de dispositivos de segurança, já que dirigimos por nós e pelos outros.


Inegavelmente, a vida está mais agitada, a sociedade jaz sufocada num mar de ansiedade onde muitos buscam nos chamados esportes radicais a explosão da adrenalina que crie, por instantes, uma falsa sensação de prazer.


Fruído aquele êxtase, desaparece o riso e a carantonha do medo e das angústias reaparecem, escravizando o indivíduo.


Muitos optam por jornadas desumanas de trabalho, em disfarçada fuga da intimidade do lar, onde estão desafios da convivência que o parceiro ou parceira se recusa enfrentar. Filhos exigentes, hiperativos, as cobranças contínuas do cônjuge e a escassez de recursos acabam por produzir um morbo que afeta a vida sexual, que perde o viço, estrangula o humor, que se faz chulo ou ácido, empurrando o cidadão para situações de abandono das responsabilidades do lar e da família, optando pela companhia dos amigos do copo, do churrasco e dos vícios.


Qualquer lugar onde não haja cobrança, boletos, obrigações, esquecimento da tirania do relógio. Nada obstante, a vida prossegue na sua faina indomável, cobrando dos néscios e foragidos do dever o tributo amargo das defecções e da evasão deliberada dos compromissos conjugais.


O trabalho é pauta natural da existência, e dentro dele encontramos estímulos que impulsionam o progresso. Se a opção da vida solitária fosse modelo padrão vigente, certamente que o progresso dificilmente se realizaria, atrofiando a marcha da evolução coletiva e individual. Os óbices e dificuldades existem para estimular a criatividade, desenvolver aptidões e alavancar o ser em direção ao seu glorioso porvir, onde a plenitude rebrilha como meta existencial.


Compete a nós todos desenvolver mecanismos de diluição dessas tensões contínuas, salvaguardando a vida de seus danosos efeitos colaterais.


A ansiedade mórbida, produzindo barris de pólvora ambulantes.


Milhões de pessoas agitadas, desgovernadas nos nervos, explodindo em situações inesperadas e deixando um rastro de morte e luto por onde passam.


A busca incessante por medicações que atenuem as tensões, seja nos empórios farmacêuticos, seja no gole de uísque que se ingere para anestesiar os problemas.


E eis uma vaga colossal de dependentes químicos, alcoólatras sociais, hipocondríacos insaciáveis, psicóticos de toda ordem, atormentando a sociedade e inquietando o Estado.


A impotência das religiões, que não consegue decifrar esse inquieto biótipo, nem ofertar conforto apenas com chavões teológicos, desconectados da realidade profunda. E a ignorância acerca da imensa nuvem de testemunhas que cerca e respira o mesmo ar dessa massa de encarnados produz um vácuo, não preenchido pelo cultivo do materialismo sufocante.


Mentes que viveram na Terra, sedentas de paixões não gozadas, sob sevícias de ilusões longamente acalentadas, agora fora do corpo pelo golpe certeiro da morte, induzem pensamentos de inquietação, sugerem indiretamente o suicídio e estimulam as bacanais, buscando parcerias em deleites de natureza inferior a que sujeitaram o próprio coração.


Uma vida austera, onde a ética seja uma baliza e a morigeração de hábitos seja uma constante não é apenas uma eleição saudável. Se impõe como dieta moral para reequilibrar o desgoverno emocional a que estamos todos sujeitos nesses tempos difíceis.


Ondas de perturbação obnubilam o foco. Sombras teimosas se colocam entre o ser e as metas desejadas. Adversários cruéis se postam, de atalaia, conspirando pela queda provável no precipício da desonra e da viciação contumaz.


Não por outra razão, Jesus nos sugeriu orar e vigiar.


A oração renova o ser, dotando-lhe de lucidez e paz interior, face aos grandes embates existenciais. A vigilância alerta o Espírito para as armadilhas da estrada, onde o canto da sereia destroça o frágil barco de nossas emoções nos arrecifes de nossa insensatez.


Cada manhã, antes de tua projeção no mundo, que ruge lá fora, mergulha por instantes no universo silencioso da oração. Lê modesta página de otimismo e vigor emocional.


Recompõe tuas paisagens íntimas antes do enfrentamento da agenda que te cabe na pauta do dia.


Sossega a inarmonia porventura herdada da noite mal dormida.


Desafivela do rosto a máscara do pessimismo e da tristeza, situando tuas energias no trabalho que te espera e na convivência pacífica com pessoas descompensadas que fatalmente irão cruzar teu caminho hoje.


Não importa o que venha ocorrer, não percas a tua paz.


Preserva tua esperança.


Mantém intacta tua confiança em dias melhores e sob hipótese alguma abre mão de tua segurança em Deus.


Quando o mundo te negar o de que reclamas como direito teu, te furtar aquilo que supões ser tua propriedade e vires coturnos selvagens pisotearem teu frágil jardim, esmagando teu roseiral, silencia e espera.


Novas sementes no chão hão de virar jardim, amanhã.


Para muitos, a estação invernal os fechou em sombras e frio intenso. Cerraram a própria alma ao sol do verão. Sê tu uma incessante primavera, florindo a cada manhã.


Assim agindo, triunfarás.


Marta

Salvador, 28.07.2022

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